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Capela das Palmeiras

Rua Alcides Cosenzo

Conjunto Habitacional Jardim das Palmeiras - Ribeirão Preto

Em meados do século XIX, antes da separação entre Igreja e Estado, uma condição sine qua non para o surgimento de um povoado era a existência de uma Igreja. Para isso, na época, era necessário doar terras para o patrimônio do santo ao qual a Igreja seria consagrada. Essa doação tinha de atender a alguns requisitos, como um valor mínimo para as terras (de 200 mil réis). Historiadores registram que José Mateus dos Reis, dono da maior parte da Fazenda das Palmeiras, fez a primeira doação de terras no valor de 40 mil reis, “com a condição de no terreno ser levantada uma capela em louvor a São Sebastião das Palmeiras”. Assim, em 2 de novembro de 1845, no bairro das Palmeiras, era fincada uma cruz de madeira como tentativa de demarcação de um patrimônio para a futura capela de São Sebastião. Nesse mesmo dia foi celebrada uma missa campal pelo vigário de São Simão.

A doação, porém, não prosperou. O valor da doação não atingiu o mínimo exigido pela Câmara Episcopal. Ainda assim, no local o povo ergueu uma rústica capela. Em livros sobre a história de Ribeirão Preto há relatos de que padres vinham de São Simão, esporadicamente, realizar celebrações oficiosas naquela capelinha. A capelinha no bairro das Palmeiras teria desaparecido num incêndio em 1853. Um ano antes, outros moradores fizeram novas doações para a formação de um patrimônio eclesiástico, passo primeiro para a construção da almejada Igreja. Eram, novamente, moradores (condôminos) da fazenda das Palmeiras, e mais uma vez a tentativa fracassa - vários deles não conseguiram provar a posse legal das terras que seriam doadas.

A terceira tentativa, que vai resultar em Ribeirão Preto, começa ainda em 1852, quando o maior proprietário da fazenda do Retiro, José Borges da Costa, pede a divisão judicial dela - vários condôminos haviam feito doações para o patrimônio de São Sebastião. Como as glebas não estavam especificadas, e talvez pela impossibilidade de formarem uma área contínua, um grupo de fazendeiros (Manoel Fernandes do Nascimento e mulher à frente) adquiriu gleba na vizinha fazenda da Barra do Retiro.

O fazendeiro que havia vendido essa gleba (Antonio José Teixeira Junior) ainda tenta desfazer o negócio, ingressando na Justiça. Ele alega que pessoas estavam construindo casas em suas terras - se diz vítima de esbulho. Em agosto de 1853 o procurador de Manoel Fernandes do Nascimento consegue na Justiça derrubar o embargo que pairava sobre o projeto.

O documento judicial (trâmite em Casa Branca) deixa claro que o desejo de todos era o de fundar um povoado. “Construíram algumas pessoas do povo uma capelinha e algumas casas no mesmíssimo lugar beneficiado e destinado para a povoação da Barra do Retiro. (...)”. Mais do que isso, confirma que uma capela com casas em seu redor já existia em 1853: “E tendo depois os 30 alqueires de terreno e mais outros sendo doados a São Sebastião, sub conditione de que só se consideraria perfeita a doação depois de erecta a capella solemnemente (...). E não será, ultimamente, satisfeita a condição?”. A capela a que se refere o documento existiu no quadrilátero formado pelas ruas Barão do Amazonas, General Osório e Duque de Caxias e face da praça Barão do Rio Branco. Ou seja, a povoação que deu origem a Ribeirão Preto é resultado de um processo - a doação de terras para a formação de um patrimônio eclesiástico - que começou efetivamente em 2 de novembro de 1845, com aquela primeira tentativa de demarcação da área destinada à primeira Igreja. Ribeirão tem, portanto, 160 anos de história.

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