Apesar de pibinho, inflação do aluguel sobe
Mesmo com economia fraca, IGP-M acelera ante 2011 e fecha o ano em 7,8%, puxado por alimentos e real desvalorizado.
Previsão é que o índice perca força em 2013, uma vez que não é esperado novo choque nos preços de alimentos
Apesar do menor crescimento da economia, a inflação medida pelo IGP-M (índice de preços que é referência para reajuste do aluguel) fechou o ano em 7,82%, mais elevado patamar desde 2010.
O resultado se deve ao aumento dos preços dos alimentos no exterior e à desvalorização do real diante do dólar.
Mas, diferentemente do que ocorreu há dois anos -quando os alimentos também puxaram os preços-, em 2012 a inflação acelerou sem ter como componente a alta excessiva de demanda.
A seca no Brasil e nos EUA fez o preço da soja avançar 67% neste ano, segundo a FGV. Milho e, por consequência, aves subiram pelo mesmo efeito. Com isso, os produtos agrícolas no atacado tiveram alta de 18,8%.
Já os produtos industriais, mais relacionados ao ritmo da economia, tiveram aumento mais moderado, de 5,03%.
"Muitas vezes, o aumento dos preços das commodities é sinalizador do maior ritmo da atividade. Mas, neste ano, as economias do Brasil e de outros países patinaram", diz Salomão Quadros, da FGV. "O aumento não ocorreu por aumento de demanda, mas por quebra de safras."
A valorização do dólar, que saiu de de R$ 1,70 para os atuais R$ 2,04, intensificou a alta, pois a composição do IGP-M dá destaque a produtos com cotação no exterior (em dólar), como soja e do milho.
Para o consumidor final, a alimentação subiu 9,5% no ano, segundo a FGV, e só perdeu para o item despesas diversas (11,7%), que incluem serviços, como empregada.
Os serviços ao consumidor subiram 7,7% no ano, também acima de 2011 (7,5%).
O resultado, para Quadros, é preocupante para a inflação de 2013, pois é resultado do mercado de trabalho apertado: "Se a melhora da economia se firmar, haverá maior demanda por trabalhadores".
A previsão de analistas, contudo, é que o IGP-M de 2013 recue: "Os alimentos darão um alívio", estima Elson Teles, economista do Itaú Unibanco, que prevê alta de 4,8% do IGP-M em 2013.
Salários da construção civil desaceleram em 2012
O valor da mão de obra da construção civil subiu menos neste ano do que em 2011, diante da desaceleração do setor -principalmente no segmento imobiliário.
A remuneração dos operários aumentou 9,55% em 2012, segundo o INCC (Índice Nacional de Custo da Construção), que compõe o IGP-M. Em 2011, a alta foi de 10,72%. Em 2010, de 9,91%.
As construtoras contrataram neste ano menos que o previsto, lançando menor número de imóveis para se ajustar à demanda mais fraca.
A cidade de São Paulo, por exemplo, ganhou em 2012, até outubro, 18,9 mil moradias, o total mais baixo para o período em oito anos, segundo dados do Secovi-SP, que representa as empresas.
Wesley Bernabé, analista do BB Investimentos, destaca que, embora menos intensa, ainda há demanda.
"Reduzindo o número de lançamentos, as construtoras arrumaram a casa. Agora, para aproveitar a demanda existente, vão ter de aumentar a produtividade para que os trabalhadores rendam mais."
AINDA ALTO
Apesar da desaceleração, o valor da mão de obra é considerado alto pelas empresas, e seu aumento neste ano foi 22% maior que o do IGP-M.
Analistas ouvidos pela Folha esperam que, em 2013, a remuneração suba menos.
"A taxa de desemprego do país está baixa e, portanto, deve parar de cair. Nesse cenário, a renda do trabalhador vai parar de subir", diz André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.
O reajuste menor do salário mínimo também deve aliviar a pressão. Em 2012, o piso subiu 14%. Em 2013, é prevista alta de 9%.