foto: MATHEUS URENHA É quase um vilarejo. Fica a 17 quilômetros de Ribeirão Preto. Oferece uma das melhores qualidades de vida da região. Ocorrências policiais são raríssimas. Tem boa infra-estrutura. Comércio e prestação de serviços, ainda que precários. Trata-se do pouco falado distrito de Jurucê, encravado entre Ribeirão Preto e Jardinópolis. Pertencente ao município de Jardinópolis, o distrito aos poucos vem atraindo moradores de Ribeirão Preto que querem fugir do caos urbano, principalmente furtos, assaltos, homicídios, trânsito e poluição. Nos últimos 10 anos, o número de habitantes dobrou em decorrência desta migração, conforme afirmou o fiscal distrital Jair Riul, que há 60 anos mora no local. Hoje, com 2.250 moradores, Jurucê já pode ser considerado um “bairro” de Ribeirão Preto, com boa infra-estrutura viária. Basta transitar pela rodovia Cândido Portinari, toda duplicada e sem pedágio. Essa facilidade de morar em um local tranqüilo, longe da violência, e ao mesmo tempo estar próximo a um grande centro urbano, com oportunidades de trabalho, segundo Riul, “leva pelo menos de sete a oito famílias de Ribeirão Preto todas as semanas ao distrito, interessadas em conseguir terrenos ou residências”. Jurucê não tem corretores imobiliários. O fiscal distrital é um dos moradores mais procurados para ajudar as famílias a encontrar os imóveis que desejam habitar. “Não é fácil achar. Tem pouca oferta. Mas em breve, teremos um loteamento com 104 terrenos”, disse Riul. Com persistência, entretanto, alguns conseguem o que desejam em Jurucê, sem precisar aguardar o lançamento do novo loteamento. É o caso, por exemplo, do protético Sebastião Aparecido Sordi. Recentemente, ele conseguiu comprar dois grandes terrenos no distrito. Sordi pretende começar a construir já no início de 2007 e se transferir de Ribeirão Preto para Jurucê ainda no próximo ano. “Continuarei a trabalhar aqui, mas vou morar lá, com mais qualidade de vida”, sentenciou o protético, cujo filho e a mulher já residem no distrito.
RELATO “Olhei, gostei, me apaixonei pelo distrito”
A mesma atitude do protético foi tomada pela professora aposentada Teresa Vianna há 17 anos. Ela está em Jurucê morando com a mãe, o marido e o filho. Tem uma loja no centro e é colunista do único jornal do distrito. Segundo Teresa, foi uma paixão à primeira vista. “Estava passeando naquela região do Regatas, do Caiçara e do Iate Clube. Resolvi então dar uma esticada até Jurucê. Olhei, gostei, me apaixonei, vendi meu apartamento e vim morar aqui”, disse. Durante os 17 anos de moradia no distrito, ela lembra da ocorrência de apenas um homicídio. “Foram dois adolescentes que se desentenderam. Um matou o outro com um podão. Abalou a população. Mas foi só”, observa Teresa.
ORIGEM Terra da ‘moça bonita’
Em livro do Arquivo Histórico de Jardinó- polis, consta que Jurucê já existia em 1900. Na época, era chamado de Vila Sarandi, um vilarejo rural com poucas dezenas de pessoas. Em junho de 1918, a pedido dessas pessoas, a Câmara de Jardinópolis criou um projeto transformando o vilarejo em distrito. Em 23 de junho de 1919, a Prefeitura decretou a existência do Distrito da Paz de Sarandi. Na língua tupi-guarani, sarandi significa “boca doce”, “afável”. Em 1945, Sarandi se transformou no distrito de Jurucê, nome com o mesmo significado, que na definição popular se transformou em “moça bonita”. Resultado: no distrito da “moça bonita”, moram os “boca doce”. No município ao qual pertence, residem os “boca amarela”. Jardinópolis foi chamada de cidade dos “boca amarela” por causa da produção de manga.
LUIS HENRIQUE TROVO |