Pay per use chega a condomínio família
Empreendimentos com serviços pagos somente por quem os utiliza surgiram inicialmente para atender moradores de apartamentos compactos.
Comum nos condomínios de alto padrão de um dormitório ou estúdio, os serviços pay per use (pague pelo uso, em inglês) começam a ser tendência também nos empreendimentos voltados para a família. Sem muito tempo para se deslocar e levar os filhos às aulas de natação e de balé ou o cachorro para tomar banho, as famílias buscam essas facilidades sem precisar sair de casa.
De olho nesse filão, a Brookfield criou a linha 4Family, que oferece serviços como aulas de música e teatro e hospedagem para os pets, quando a família for viajar, dentro do condomínio. "Quando fazemos o projeto (do empreendimento) chamamos as empresas parceiras para adequar as áreas comuns aos serviços que serão oferecidos", afirma José de Albuquerque, diretor de incorporação da Brookfield.
A companhia lançou o empreendimento Caminhos da Lapa, com apartamentos de 128 m² e 157 m², e fechou parcerias com empresas que vão ofertar os serviços nos espaços de lazer no condomínio. É o caso do Ballet Carla Perotti, a escola de música Brasil e o Teatro Escola Macunaíma.
Como a gama de serviços oferecida é diversificada, o público que procura condomínio com esse tipo de serviço também varia muito e vai desde casais jovens, solteiros a famílias com quatro ou cinco pessoas. "Hoje, a maioria das mulheres trabalha e não tem mais tempo de cuidar de uma série de atividades", afirma Nick Dagan, diretor de incorporação da Esser.
De acordo com ele, o pay per use não é fator determinante para a compra, mas ajuda na hora de fechar o negócio. A Esser deve lançar ainda neste mês o condomínio Atitude, no Pacaembu, com apartamentos de 40 m² a 62 m². Também serão lançados neste ano empreendimentos com esse tipo de serviço nos bairros de Vila Prudente, Aclimação, Centro, Santo Amaro e Pinheiros.
"A tendência é o pay per use se estender para (condomínios) família. Não é toda família que tem uma empregada para cuidar da casa", afirma Paola Alambert, diretora de marketing da Abyara Brazil Brokers.
O pay per use, afirma Paola, surgiu para atender as necessidades de jovens e executivos que não querem perder tempo com arrumação da casa ou se deslocando até uma academia, por exemplo.
"O que antes era oferecido apenas nos condomínios mais sofisticados, hoje é quase uma condição para a venda de apartamentos compactos", diz ela. A Abyara Brazil Brookers está comercializando um empreendimento da Brookfield, em Pinheiros, com serviços de limpeza, manutenção, lavanderia, organizador de evento, massagem e cabeleireiros.
Para cuidar de 64 empreendimentos (24 residenciais, 14 offices, 9 business/grandes lajes, 11 residenciais tipo homestay e 6 galpões) com pay per use, a Cyrela Brazil Realty criou a marca Facilities, que oferece serviços com conceito hoteleiro dos mais variados. O objetivo é chegar a 82 empreendimentos até 2016.
"Os empreendimentos do tipo homestay, com unidades que variam de 40 m² a 70 m², tem o público que mais usufrui deste tipo de serviço. As áreas comuns oferecem grande variedade de entretenimentos e prestação de serviços, que passa a ser primordial para o público de uma unidade menor", afirma a diretora da BRC Administração de Propriedades e Serviços, que administra o Facilities.
Vantagens. Além da praticidade e comodidade, o pay per use permite ganho de espaço nos apartamentos compactos. Em vez de ter uma área de serviço, o morador pode optar pelo serviço de lavanderia (leia mais abaixo), por exemplo.
Como os serviços são pagos à parte apenas por quem usá-los, o sistema também contribui para que o valor do condomínio fique menor. "O pay per use vem ao encontro de uma preocupação genérica que é o valor do condomínio. Se todos os serviços fossem incorporados o valor da taxa seria muito alto", afirma Cyro Naufel, diretor-geral da Itaplan.
A empresa vai comercializar, a partir de abril, o empreendimento BK30, na Rua Alfredo Pujol, em Santana, com apartamentos de 32,2 m² a 51,10 m². "Hoje, todo mundo quer condomínio baixo. Os nossos empreendimentos, por exemplo, já têm previsão de condomínio no estande de vendas", afirma Nick Dagan, da Esser.
As opções de serviços são diversas e vão de personal trainer a pet care, passando por massagem e organização de eventos. O trabalho é feito por firmas terceirizadas e a gestão das atividades fica por conta do concierge, uma espécie de secretário dos moradores.
Para que o projeto seja implementado, é necessária aprovação em assembleia, com detalhamento do serviço e dos custos e as regras de utilização.
"É preciso entregar o prédio a uma administradora que faça tudo isso. E os serviços oferecidos precisam ser condizentes com o público que vai morar lá", afirma Paola, da Abyara Brazil Brokers.
Valorizados. Condomínios com serviços pay per use estão localizados principalmente em regiões próximas a centros comerciais. Segundo estudo feito pela Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), os bairros com maior demanda são Itaim Bibi, Vila Olímpia, Vila Nova Conceição, Jardins, Brooklin e Campo Belo.
Os preços desses empreendimentos estão entre os mais elevados da cidade, ficando entre R$ 8.323 e R$ 13.420 o metro quadrado, podendo chegar a R$ 18.302/m².
"Há realmente uma tendência nesse tipo de unidade voltada especialmente para executivos estrangeiros e de outros Estados brasileiros que necessitam morar perto do trabalho e estar conectados com a cidade, centros culturais, shoppings, clubes e não muito distante do Aeroporto de Congonhas e de locais que possam aumentar a qualidade de vida, como o Parque do Ibirapuera ou estações de trem ou de metrô", afirma Luiz Paulo Pompéia, diretor da Embraesp.
Entre o público que busca condomínios com serviço pay per use, os agente do mercado destaca os descasados, descolados, casais sem filhos, casais de terceira idade, aposentados, jovens de classe média/alta que não suportam mais dividir seu espaço com outros membros de suas famílias e uma parcela do grupo GLS.
A construtora Kallas vai lançar até dezembro um empreendimento em Pinheiros, que vai oferecer até café da manhã para os moradores para que eles se sintam como se estivessem em um hotel de férias.
"Os serviços facilitam a vida de quem não tem muito tempo para cuidar da casa durante a semana e quer ter o final de semana livre para descansar", afirma o diretor de incorporação da companhia, Thiago Kallas.